sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Espera

A espera angustia-me
Deglute-me em pedaços pequenos
Regurgita-me em mistura de fel e humor negro

Espero
Como se sentada neste pico de letargia me viesse alguma luz
Um raio de lucidez que teimo em não enxergar
Um turbilhão de noções de ética que proclamo para mim mesma

Espero
Calo dentro de mim a ainda histérica impaciência que a maternidade não soube amainar
Afago a face para não embeiçar
Até não mais me lembrar do que é que estava à espera, em primeiro lugar.

Ás vezes mais valia estar quieta!

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Às vezes

sinto que estou a perder o chão
as memorias acumulam-se na minha cabeça
esqueço-me de respirar, fecho os olhos
e finjo um sorriso dentro de mim
aqui, onde ninguém me vê
finjo um sorriso
este
é só para ti.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

last day

como se ergue assim o coração ao alto?
como se faz para não o deixar cair?
insurjo-me contra uma parede branca
mas não deixei marca
passeei-me por estas ruas, mas não lhes sinto o meu cheiro
afago a memória, centelha célere que teima em me queimar
mas não me revejo nos seus contornos de luz incandescente
amei, amei muito
com a alma na boca a tentar pular para fora
chorei, como se o meu desespero neurótico surtisse algum efeito no ciclo da perda
quis arrancar de mim a pele que me queimava o corpo
quis tirar de mim os poros que tivesses tocado
que contivessem sequer uma simples farpa da tua existência cravada em mim!
tudo isto eu fiz, eu rezei para ter feito
eu queria ter feito, eu recusei-me fazê-lo
toda a tonta intensidade de mais um sentimento
foi desperdício?
não! sinceridade apenas...
deixei em ti alguma marca de mim?
continuas a sorrir e eu simplesmente aceno com a cabeça
só queria deixar-te uma marca de mim
para ter consciência que houve um propósito em tudo o que vivi
tudo o que ainda vivo
cá dentro
na minha cabeça
neste caixote
da minha cabeça

sábado, 22 de setembro de 2007

Shadowman


Venho aqui
Quando me embalam as incertezas.
No lusco fusco tardio da minha memória,
No silêncio apregoado pelo vento, mas sempre ausente...


Sento-me aqui,
No meu pedaço de chão,
No meu sonho sólido de conveniências e teorias erróneas.
Alcançam os meus dedos o infinito do que não é mais que carne anexa a osso
Alcançam as minhas utopias nada mais que as limitações da realidade crua que me circunda.


Venho aqui, lamentar-me de mim,
Prostrar-me perante a que fui e que hoje me olha desiludida.
Busco aqui,
A paz que já perdi, os sonhos que não vivi,
A borboleta que asfixiei no meu saco de papel...
Está morta.
É fóssil.


Longe vai o tempo em que olhava o saco de papel esvoaçar ao sabor do vento.
Pensava que era o vento, mas era eu...
E eu, eu só sei sugar a vida,
Eu que nunca vivi além do horizonte de sonho que erguia na minha psique
Aurora Boreal de fantasias,
... eufemismos.


Sou-me na eterna vontade!
Essa! Não me faltou nunca a vontade!
Vontade de erguer o sonho à altura das asas!



Sempre o sonho, nunca a verdade.
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A Letra:


"Shadowman" --- K's Choice

Any time tomorrow

I will lie and say I'm fine

I'll say yes when I mean no

And any time tomorrow

The sun will cease to shine

There's a shadowman who told me so

Any time tomorrow the rain will play a part

Of a play I used to know

Like no other

Used to know it all by heart

But a shadowman inside has let it go

Oh no, let go of my hand

Oh no, not now I'm down, my friend

You came to me anew

Or was it me who came to you

Shadowman

Any time tomorrow a part of me will die

And a new one will be born

Any time tomorrow

I'll get sick of asking why

Sick of all the darkness I have worn

Any time tomorrow

I will try to do what's right

Making sense of all I can

Any time tomorrow

I'll pretend to see the light

I just might

Shadowman

Oh here's the sun again

Isn't it appealing to recline

Get blinded and to go into the light again

Doesn't it make you sad

To see so much love denied

See nothing but a shadowman inside

Oh, if you're coming down to rescue me

Now would be perfect

Please, if you're coming down to rescue me

Now would be perfect

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Morphine ....

Passou-se o tempo devagar
Como que um suspiro lânguido e sereno que a noite veio despertar
Passou-se o dia, as horas, o momento
Rasguei as palavras que, soltas, pululavam por entre os teus dedos
Não são tuas, não são minhas,
Perdi-lhes o sentido quando as remeti sem sentimento
Já não nos revemos nelas, as palavras
Pedimos-lhes que nos preencham, que nos incutam algo,
Mas são vagas, e cheias de simbolismos fúteis que não são verdade!
Como na altura em que passava os dedos pelo gradeamento da escola
E eles ficavam dormentes,
Mas eu ansiava por adormecer igualmente todo o meu corpo...
No desejo cego de poder cobrir toda a minha existência com o opaco véu da passividade
E não ter de me insurgir contra nada nem ninguém
Poder simplesmente adormecer o meu corpo para extinguir o fogo e a dor que me assolavam por dentro.
Tantas palavras me assolavam nesse momento...
Tão sentidas, tão verdadeiras que me ardiam na garganta como um grito sufocado entre pedaços de alma e fragmentos de razão...

Perdemo-nos nestes pensamentos pueris por instantes...
Recordar o que já não é com alguma nostalgia, sem recorrer a grandes tragédias do metabolismo que exercemos na memória.
Mas as palavras, são sempre dramaticamente colocadas na base do meu cérebro
Palavras, significados que tentamos por força que existam, mas não estão lá!
Já perdi a conta das vezes que engoli em seco todas as palavras,
Todas as coisas que queria dizer e que acabei por deglutir no silêncio do constrangimento.
Já ansiei por dormência, para não ter de sentir...
Hoje anseio por sentir o que a dormência me calejou.
Hoje anseio por um descortinar do véu opaco que me coloquei com pregos de angústia.
Hoje a vida corre-me dormente contra um gradeamento de saudade.

13/09/2007 14.00
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Musiquinha... gosto desta, vou dedicar-lhe um pedacinho deste espaço. Partilhá-la convosco.
Espero que gostem e se não conhecerem, aconselho vivamente a procurar e ouvir. Ainda procurei no tubo, mas só tinham uma versão ao vivo que deixa muito a desejar, enfim é o que dá ter gostos pouco usuais... nunca gostei de ir com a maré, e depois quando quero estas coisinhas tenho sempre o triplo do trabalho para as encontrar, assim olha... fica só a letra e pronto :P

Morphine - The Saddest Song


On my first day back my first day back in town
My first day my first day back in town
The clouds up above they were humming our song
Humming humming our song
My biggest fear is if I let you go
You'll come and get me in my sleep
My biggest fear is if I let you go
You'll come and get me in my sleep
Come and get me
I set my course sailed away from shore
Steady steady as she goes
I crash in the night two worlds collide
But when two worlds collide no one survives no one survives and
The reddest of reds the bluest of blues
The saddest of songs I'll sing for you and
My biggest fear is if I let you go
You'll come and get me in my sleep
My biggest fear is if I let you go
You'll come and get me in my sleep
Come and get me come and get me in my sleep

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Arrasto mole o corpo sobre o pesar da minha alma
Acendo uma ténue chama para acalmar do desespero que emana dos meus olhos, não habituados a tanta escuridão.
Sôfrega, a dança do lume tende a enebriar-me os sentidos quando lhe aproximo a ponta do meu cigarro
E com o primeiro bafo, já desacostumado e ainda estranhamente familiar, sinto-me como se a calçada me pudesse engolir inteira se assim o desejasse
Já não anseio por coisas banais como tabaco e café.
A sua necessidade era há algum tempo como que um apêndice ao meu próprio corpo.
Necessitava do "sentir boémio" para me sentir "pertença" nalgum sítio, mais não fosse na minha própria solidão egoísta.
Há situações, epifanias que me transportam para um eu desconhecido.
Aquele eu que tantas vezes teimei em abafar na almofada chorosa do meu sono.
Aquele eu que já me preencheu um dia, mas que hoje simplesmente se revela fraco e vazio.
Sinto-me um livro de contos inacabados.

sábado, 1 de setembro de 2007

Como tudo o que renasce, já foi terra e húmus

E da terra e do húmus se criou a Memória
De todas as coisas que já haviam sido ditas, escritas, esquecidas.
Mas as palavras, como a terra, renovam-se
Sendo fertilizante natural da massa que nos compõe a alma
Somos as palavras que dizemos como as memórias que usamos
Trajes que envergamos pelas ruas calcetadas da nossa vontade.
Somos as palavras que projectamos nos outros...
Porque padecemos da memória de tudo o que nos rodeia.
Existimos no espectro transcendente da nossa vontade, em colisão com a dos outros.

E a memória, a memória é o nosso cadastro pessoal das
feridas e unguentos.